Sobre modelos mentais
Charlie Munger como uma musa de Amedeo Modigliani, um dos meus artistas favoritos, feito por uma AI
Uma das pessoas do mercado que mais admiro é Charlie Munger, sócio de Warren Buffett e vice-presidente da Berkshire Hathaway. Na minha humilde opinião, o livro de Tren Griffin condensando suas entrevistas e discursos, “Charlie Munger: The Complete Investor”, é um dos melhores livros sobre mercado (salvo os manuais para consulta).
Em seu célebre discurso na USC Business School em 1994, Charlie Munger dá uma verdadeira aula sobre o processo de aprendizagem e construção de modelos mentais. Segue o enxerto:
“And what is elementary, wordly wisdom? Well, the first rule is that you can't really know anything if you just remember isolated facts and try and bang 'em back. If the facts don't hang together on a latticework of theory, you don't have them in a usable form.
You've got to have models in your head. And you've got to array your experience—both vicarious and direct—on this latticework of models. You may have noticed students who just try to remember and pound back what is remembered. Well, they fail in school and in life. You've got to hang experience on a latticework of models in your head.
What are the models? Well, the first rule is that you've got to have multiple models—because if you just have one or two that you're using, the nature of human psychology is such that you'll torture reality so that it fits your models, or at least you'll think it does. You become the equivalent of a chiropractor who, of course, is the great boob in medicine.
[...]
And the models have to come from multiple disciplines—because all the wisdom of the world is not to be found in one little academic department. That's why poetry professors, by and large, are so unwise in a worldly sense. They don't have enough models in their heads. So you've got to have models across a fair array of disciplines.”
Confesso que até ler a transcrição deste discurso (disponível aqui caso você tenha interesse) nunca tinha ouvido falar nos tais “modelos mentais”.
O conceito basicamente tem a ver com grandes teorias que a mente faz uso para simplificar a complexidade do mundo. São basicamente lentes que oferecem uma compreensão acerca de determinado assunto. Estes modelos auxiliam na capacidade de compreensão e raciocínio, na medida em que filtram esta complexidade e facilitam processo decisórios.
O último parágrafo do discurso que selecionei acima é uma excelente síntese do pensamento generalista: dificilmente você consegue pensar com clareza colecionando modelos mentais de uma única área do conhecimento. A fim de produzir o chamado “latticework of mental models” do discurso de Charlie Munger, é preciso ser um curioso nato, obcecado por leitura e estar disposto a ser um eterno aprendiz de diversas áreas do conhecimento.
Por coincidência, a ideia de modelos mentais se repete também no livro The Almanack of Naval Ravikant, onde são selecionadas algumas lições do investidor Naval, no mesmo estilo do Complete Investor. Elon Musk, fundador da Tesla e SpaceX, também se utiliza do conceito de modelos mentais. Neste artigo do Farnam Street também aparece uma transcrição de uma entrevista em que Elon diz como constrói conhecimento:
“I do think there is a good framework for thinking. It is physics – you know the sort of first principles reasoning … What I mean by that is boil things down to their fundamental truths and reason up from there as opposed to reasoning by analogy.
Though most of our life we get through it by reasoning through analogy, which essentially means copying what other people do with slight variations. And you have to do that, otherwise mentally you wouldn’t be able to get through the day. But when you want to do something new you have to apply the physics approach. Physics has really figured out how to discover new things that are counter-intuitive, like quantum mechanics … so I think that’s an important thing to do. And then also really pay attention to negative feedback and solicit it, particularly from friends. This may sound like simple advice but hardly anyone does that and it’s incredibly helpful.”
Pensando nestas entrevistas e como defensora do pensamento generalista, pensei em colocar aqui algumas sugestões de livros que acho que podem ajudar nessa construção de modelos mentais. Não porque eu ache que seja uma referência em inteligência e modelos mentais (não sou), mas por ter lido uma variedade de livros que acredito que me ajudaram a ter interesse por diversas áreas diferentes.
Munger, Naval e Elon Musk recomendam um mesmo livro para construção de modelos mentais sobre Física, que li e cuja didática me encantou:
1- Richard Feynman – Six Easy Pieces: Essentials of Physics Explained by Its Most Brilliant Teacher
A didática deste livro é absolutamente encantadora. Acredito que a verdadeira inteligência está em conseguir explicar um conceito complexo com uma simplicidade tamanha que uma criança conseguiria entender. E é isso que Feynman (Nobel de Física) faz neste livro. Confesso que teria me ajudado muito no ensino médio e no vestibular (rs).
Sou graduada em Relações Internacionais, mas durante a graduação todo meu interesse foi voltado para economia. Fui monitora de macroeconomia, microeconomia, economia internacional e economia política, orientei minhas eletivas para economia, fiz parte da liga de mercado financeiro e publiquei artigos relativos a conjuntura econômica internacional.
No entanto infelizmente no meu curso (que é de ciências sociais aplicadas focado sobretudo em ciência política para compreender a dinâmica do sistema internacional) não tive aulas de cálculo, que eram necessárias para que eu conseguisse passar no processo seletivo do meu mestrado (este em economia). Esse livro me ajudou muito a ter interesse por aprender cálculo, na medida em que mistura história da matemática com matemática aplicada.
Esse livro foi leitura obrigatória numa matéria que tive na minha graduação (chamada Processos de Negociação e Tomada de Decisão em Relações Internacionais, apelidada carinhosamente de “Barganha”).
Uma das matérias mais importantes que tive para aprender a negociar, compreender heurísticas e “atalhos” que o cérebro faz para evitar pensar racionalmente 100% do tempo. Denso, mas excelente livro de consulta.
Neste livro, o pai do valuation fala sobre o valor da narrativa (storytelling) no mercado. Eu tinha a concepção de que um bom valuation teria que ser, necessariamente, um modelo matemático complexo – ser analista, portanto, seria uma área em que os number crunchers teriam clara vantagem competitiva. Este livro me mostrou o contrário. Excelente leitura.
Inclusive, caso os interesse, acho que vale a pena ver todos os livros publicados pela Columbia Business School. Tem muitos livros interessantíssimos na área de mercado sobre os mais diversos temas.
Feito por Shane Parrish, um dos criadores do blog Farnam Street (vale a visita!), esta série de livros (são três lançados, este da foto é apenas o primeiro volume) sintetiza modelos mentais genéricos de diversas áreas – física, matemática, psicologia, biologia. O blog tem grande inspiração no generalist thinking, motivo pelo qual aborda tantas áreas diferentes.
Coloquei aqui livros de algumas áreas do conhecimento que o Munger considera de suma importância para um bom investidor (psicologia, matemática, física e um livro próprio de mercado, além de um genérico). Espero que interesse alguns de vocês.
Vou deixar aqui também uma thread que fiz há um tempo no Twitter sobre hábitos de leitura, caso ajude alguém!
Obrigada por ler!







