Composição em vermelho, amarelo e azul. Piet Mondrian, 1921.
Meus doces, bom dia.
Que o mercado é um lugar de muita entropia não é novidade. E não sei se ando mais impaciente que o normal, mas ultimamente tem me incomodado a miscelânea de certezas sobre todas as coisas possíveis e imagináveis na rede.
“Clara, mas isso é produto de quem você segue”. É, é verdade. Mas tenho sentido um caos generalizado entre pautas, as primárias da Argentina, o novo arcabouço, a Larissa Manoela, Barbie e Oppenheimer. Para não falar do otimismo seguido do desespero. E a bolsa corrigindo lá fora. E a bolsa corrigindo aqui. E a temporada de resultados que vem vindo de mediana a ruim (salvo uma exceção ou outra). E a guerra que segue. E o início do corte nos juros, na semana passada. E eu não pude deixar de pensar, como sempre, nas pessoas que tomam decisões baseadas no influenciador favorito (o “influenciador favorito” já está virando um personagem por aqui). Vi um tweet de um rapaz dizendo que investiu o dinheiro da namorada em ações aos 120k e pensei em quantas pessoas também fizeram isso, mas podem estar meio desesperadas.
Tudo isso me fez pensar na importância do modelo mental da Navalha de Occam, talvez um dos mais versáteis que existem.
Modelos mentais
Se você puxar aleatoriamente um analista pelo colarinho, há grandes chances de que ele tenha começado a estudar value investing por Warren Buffett. Comigo não foi diferente. Mas para mim o Charlie Munger sempre foi uma figura muito mais interessante que o Buffett. Todos os méritos ao bom velhinho de Omaha, mas o famoso discurso de Munger na USC Business School de 1994 é, para mim, um texto a ser sempre revisitado. O livro Poor Charlie’s Almanack, idem. “The Complete Investor”, do Tren Griffin, idem.
Para Munger, o conhecimento de mundo - que é essencial, dentre outras coisas, para o stock picking - se faz a partir de modelos mentais. Uma série de 80 a 90 modelos mentais que fazem você ter de fato conhecimento de mundo.
Modelos mentais são grandes teorias que a mente faz uso para simplificar a complexidade do mundo. E você deve, segundo Munger, ter uma série de modelos mentais de uma gama de disciplinas - uma vez que você não consegue adquirir todo o conhecimento num único departamento acadêmico. Já ouviram um ditado americano que diz “to the man with only a hammer, every problem looks like a nail?”
Ele discorre sobre uma série de modelos mentais derivados da matemática, da psicologia, da biologia, da contabilidade, da microeconomia… Quais serão relevantes ou não para você, para mim genuinamente tanto faz. Mas esse modelo de linearizar pensamentos faz sentido, sobretudo porque constantemente fazemos decisões subótimas (quem leu Daniel Kahneman sabe disso) e repetimos erros o tempo inteiro.
A Navalha de Occam
A Navalha de Occam é um modelo mental derivado da lógica e da resolução de problemas e defende que coisas e explicações mais simples tendem a ter menor falseabilidade que as complicadas. Simples assim. Em vez de elaborar cenários complicados, opte pelo mais simples possível, porque você tende a tomar decisões com mais certeza, optando por um passo-a-passo menos complicado.
Pessoas naturalmente tendem a se preocupar muito em criar narrativas super complexas para justificar fatos. Mas o lógico William de Occam, de onde vem o nome do modelo mental, diz que “a pluralidade não deve ser postulada sem necessidade”. Simplicidade é mais fácil de se falsabilizar, mais fácil de se compreender, e, em geral, mais provável de estar correta. E nesse sentido o ruído externo me parece criar pluralidade demais.
Daí aquele velho clichê que todos ouvem e pouco seguem de saber o que você está operando, conhecer as companhias que você investe, não seguir o call do coleguinha se você não faz a mínima ideia do que se trata. Ter uma série de modelos mentais e estudar de fato, criar método, se ater a uma filosofia, todas essas coisas são de extrema importância.
Alguma coisa na fintwit nos últimos dias - que como bem dito por um amigo, é um bom ‘canto’ do pregão viva voz - me lembra o caos de poucos anos atrás: os CBs, ibov a 67k, depois a rápida recuperação, foguetinhos e posts de rentabilidade de carteira, papéis ‘queridinhos’ e a euforia sendo gradativamente irrompida e preenchida por um amargor da bolsa que passou a cair pouco a pouco em meados de 2021. Dadas as devidas proporções, conseguimos saber, pela mudança abrupta de humor, que tem muita gente perdida e confusa com o excesso de barulho vindo de todo lugar.
Corte todo o ruído. Se atenha ao simples.
Inutilia truncat.
Obrigada por ler!
Clara Sodré
Belo texto Clara!
Em um mundo onde há excesso de informação, e falta de profundidade nos temas discutidos e analisados, acho que veremos cada vez mais depressão e euforia nas redes. Ter os modelos mentais certos, definitivamente ajudará a navegar de forma mais tranquila por estes mares revoltosos!
Bingo. O simples é o simples e estamos conversados.